Simultaneidade

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O Sistema Vedanta afirma que existem dois tipos de ações que podemos realizar, podemos genericamente dividir as ações em dois tipos, ação interna e ação externa. Na ação interna não utilizamos os sentidos físicos (audição, tato, paladar, visão, olfato) e na ação externa utilizamos os sentidos físicos.
A respeito da ação nós afirmamos também que nunca a 1consciência individual (o individuo, o eu) pode detectar dois eventos, ou duas situações simultaneamente. Quer dizer, é impossível para consciência individual detectar dois objetos ou dois eventos internos ou externos que ocorrem ao mesmo tempo. A consciência individual sempre vai detectar uma parte e nunca mais que uma parte por vez. Assim, não podemos detectar as condições totais de dois objetos simultaneamente através da consciência individual.
Na medida em que a consciência individual começa a detectar um objeto no momento presente, ela só pode detectar uma parte deste objeto, ao subdividir em partes não poderá detectar mais que uma destas partes deste mesmo objeto. Um todo jamais pode detectar-se simultaneamente com outro todo, o que acontece é que ao detectar, o individuo divide o todo em partes e esta parte se transforma em todo e queremos que este novo todo seja permanente e estável, mas não é assim.
Por esta razão, quando começamos a detectar, a reconhecer uma ação, reconhecer um objeto ou um evento que está ocorrendo no momento presente, ou seja o que está ocorrendo aqui e agora, o primeiro que acontece é que perdemos a qualidade de sujeito que conhece ou a qualidade de objeto conhecido, nunca é possível detectar verdadeiramente as condições totais do objeto de maneira simultânea a do sujeito. Na identificação do momento presente, naquilo que está acontecendo agora, o primeiro que perdemos é a
1 Consciência = Parte ativa da Conciência que capacita ao praticante a capacidade individual de conhecer. Esta atividade individual lhe permite saber que ele mesmo e os objetos existem. A luz do <> pessoal promove a conciência individual.
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qualidade de sujeito que o conhece ou da qualidade do objeto que é conhecido, esta condição de percepção chamamos de observação.
Além deste estado, quando seguimos estabilizado no sujeito (prática interna) que conhece ou no objeto conhecido (prática externa) o que percebemos é que o objeto não deixa de ser sujeito ou o sujeito não deixa de ser objeto, a isto denominamos concentração.
E além, todo sujeito, e todo objeto, e todo evento associado externo a esta circunstância acabam sendo reconhecidos e a este reconhecimento de todos os eventos que pode ser percebido simultaneamente, chamamos Meditação.
Nenhum evento pode reconhecer-se simultaneamente a outro em uma condição humana consciente individual (sabendo ser um eu). Se quiserem detectar a um sujeito e a um objeto simultaneamente ou detectar dois eventos ou objetos simultaneamente não pode fazê-lo é impossível. Tem que convertê-lo em um todo. Quando querem encontrar partes deste todo, não conseguem encontrar partes simultaneamente deste todo, é impossível.
A consciência individual (eu) tem uma condição excepcional, divide tudo em partes, secciona tudo que contata, na física quântica chamamos isto de colapsar. Colapsar é assumir uma das imensas e numerosas possibilidades de um objeto ou de um evento de existir e de conhecer. Por exemplo, esta coluna de madeira (na sala), igual que qualquer evento ou objeto, tem ilimitadas possibilidades de ser conhecida, de existir, desde quando foi feita, desde quem a desenhou, desde quem a construiu, de suas propriedades físicas, suas propriedades químicas… Quer dizer, esta coluna tem inumeráveis possibilidades de ser conhecida, não podemos conhecer simultaneamente duas qualidades ou duas possibilidades deste objeto, deste evento. Não podemos perceber sua cor ao mesmo tempo em que percebemos a sua largura, o que acontece é que percebemos sua cor e depois sua largura, não podemos perceber seu brilho e os nós que há nela, primeiro percebemos o brilho e após os nós.
Quando a consciência individual (eu) quer detectar simultaneamente a totalidade de eventos que compõe um todo, automaticamente evidência e surge uma parte do todo, e nunca poderá perceber a totalidade do todo.
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Quando se assume uma parte como um todo, surge de imediato esta parte e esta se converte em novas partes, surgem as potenciais possibilidades que a formam, e finalmente o que assumimos são aparentes partes momentâneas de algo que parece ser um todo quando é apenas uma parte do todo, não é possível conhecer dois eventos simultaneamente, a mente colapsa toda a percepção, divide toda a informação, a divide em partes em frações, a limita.
Será que, podemos conhecer todos os eventos qualquer que seja? A resposta é sim. Será que podemos conhecer todos os eventos em sua capacidade ou quantidade de partes que o compõe simultaneamente? A resposta é sim.
O que notamos é o próprio mecanismo através do qual o sujeito (consciência individual) quando conhece colapsa a informação, porque desta perspectiva só vemos apenas a momentaneidade do evento na parte que corresponde a outro que previamente já conheço (passado), esta função, esta condição é pensar em… e penso em função de um evento que reconheço previamente (passado) mas não posso conhecer simultaneamente sua essencialidade ou as partes deste todo que reconheço, posso dizer por exemplo, “avião”, é um todo, e posso perceber aparentemente a realidade que evoca este evento quando observo outro que está acontecendo momentaneamente.
Desta perspectiva converto a percepção em um todo, mas quando quero analisar realmente a totalidade deste todo, o converto em partes, e de tanto convertê-los em partes acabo pensando, sempre, e esta é a capacidade de relacionamento e evocação para poder seguir pensando nele. Mas nada pode perceber dois eventos simultaneamente. Uma câmera de vídeo pode fazer, porque não pensa, esta câmara de vídeo pode fazer e registra simultaneamente, pode gravar cores, imagens, sons, formas… Porque não pensa, bastaria ela eleger sobre o que pensa do que observa e se colapsaria as informações. Por não ter consciência de si, razão por la qual cada vez que ela atua.
Se a câmera tivesse egoísmo (individualismo), cada vez que atuaria conhecendo uma ação cognitiva ou uma ação qualquer, veria partes e partes, e definiria estas partes fundamentadas em sua capacidade evocatória através do mecanismo dialético que compara o conhecido (passado) com o evento que está acontecendo.
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E repetindo, temos a capacidade de realizar dois tipos de ações, ações internas e ações externas, ações que se ligam ou não aos sentidos, nunca podemos perceber simultaneamente dois tipos de ações, e conhecer a condição total deste evento que representa esta ação, é impossível fazer isto, não há maneira de realizar isto pela consciência individual (eu).
A tal ponto que, quando atendemos um evento que esteja acontecendo, seja qual seja o evento que se apresenta no presente, começamos a identificar uma das duas partes finais que compõe a cognição, a cognição se compõe de objeto ou se compõe de sujeito. Quando finalmente estamos percebendo um evento e estamos atentos a este evento que está acontecendo, o primeiro que fazemos é perder a parte sujeito ou perder a parte objeto, é o que estranhamente ocorre na cognição, nunca um sujeito pode conhecer simultaneamente a um objeto e nunca um objeto pode conhecer simultaneamente a um sujeito.
Mas, quando tentamos experimentar o que está acontecendo, ao realizar uma ação e ser consciente dela, e o fato de buscar ser consciente dela, surge imediatamente a condição de não ser um sujeito ou de não ser um objeto.
Por esta razão quando o individuo está atento no mundo interior e realizando uma ação buscar ficar atento a ele, o primeiro que precisa detectar é somente a continuidade de um sujeito que se sobre-sai aos objetos e por isto na prática externa, quando o indivíduo está detectando os eventos externos a primeira condição é ser consciente dos objetos e nunca a do sujeito. É por isto que existe a observação, porque esta vetada a percepção de conhecer dois eventos simultaneamente, quer dizer, não existe para uma consciência individual a capacidade de conhecer dois eventos simultaneamente, esta negada. Igual ao principio de incerteza de Heisenberg, esta é a descrição mais clara e concisa descrição da forma da cognição, não se pode no momento presente ter a capacidade de reconhecer dois eventos através de uma consciência individual que a localiza, que o detecta, não há esta opção, na medida que surge mais de um evento sabemos menos de outro e através da cognição não pode haver objeto e sujeito como elementos essenciais da cognição que pode ser simultaneamente reconhecidos, se o sujeito está acontecendo ou se o objeto está acontecendo que é o plano de presunção que escolhemos (eu) para ser consciente de um evento que está acontecendo, não um elemento pensado, pois o pensado já aconteceu, é passado.
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Escolhemos um evento que está acontecendo e a medida que se atende um evento que está acontecendo o que perdemos é a qualidade de sujeito quando na prática externa ou de objeto na prática interna. Por esta razão existe o estado de observação, porque nos universos da individualidade jamais pode ser consciente de dois eventos simultaneamente, nem de dois eventos externos, nem de dois sujeitos internos e nem de objeto e nem sujeito, não existe esta possibilidade. A consciência individual não pode fazer isto, ela quer conhecer mais, e divide o todo, quer dizer, converte a totalidade que conhece em partes nas quais pode pensar e converte uma parte em todo e para pensar a divide novamente e assim raciocina e assim pensa sobre as coisas.
O que apresentamos é muito simples, a consciência individual não pode reconhecer simultaneamente objeto e sujeito como fonte de cognição.
O que podemos conhecer? Devemos conhecer o que está acontecendo (momento presente), porque sempre aos eventos passa esta circunstância, porque jamais através da mente poderemos conhecer a condição exata do que realmente conhecemos da essencialidade do que conhecemos.
Como o que queremos realmente saber é que é o que conhecemos, o que é real, sempre queremos conhecer o que é o real, e o que podemos fazer sob esta condição pensante é somente converter em real a correspondência da assimilação entre o todo conhecido e a representação evocatória que dele tenho, por exemplo, real é o “avião” porque que é a representação evocatória que concorda com o elemento. Como não queremos continuar neste processo de assimilar a um todo, uma evocação correspondente que em minha memória existe, se o que queremos realmente é saber o que são verdadeiramente as coisas, o que são realmente as coisa, e conhecer o que é o que elas são. E buscamos ser conscientes de um evento que acontece, sem a necessidade do fluxo evocatório (pensar) que temos que requerer para assegurar um nome a estas coisas.
Para isto escolhemos uma ação e situamos um evento no que chamamos de momento presente. E quando situamos um evento, a ação no momento presente o que primeiro que notamos, é que perdemos as qualidades das características com que reconhecemos os objetos e surge evidenciado o sujeito ou perdemos a qualidade do sujeito e o que surge são as qualidades e localização do objeto. Como não existe sujeito e objeto simultaneamente, não existe esta condição em um ambiente denominado presente quando a ação se
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realiza, o primeiro que reconhecemos é que existe sujeito ou há objeto de cognição a este especifico e peculiar estado de cognição lhe chamamos observação.
Mas quando mantemos a condição consciente sobre este evento que surgiu de sujeito ou de objeto, a condição consciente nos leva a uma nova condição, e é que não há apenas sujeito ou tão pouco não há apenas objeto, mas sim há objeto simultaneamente ao sujeito, mas não são diferentes, são simultâneos.
Quer dizer, podemos situar a condição de ser objeto ou a condição de ser sujeito em um momento que eles são simultâneos, se existe objeto existe sujeito, o que não existe é sujeito diferenciado do objeto, quer dizer, não existe um sujeito e posteriormente um objeto deste sujeito, ou objeto deste sujeito e assim um atrás o outro.
O que sim existe é um sujeito e simultaneamente a condição consciente do objeto, quer dizer um evento simultâneo, como se se ao ligarmos a TV e víssemos simultaneamente dois canais.
O que a consciência individual percebe não é estável, não é firme, só é firme se pensarmos constantemente nele. Só existe e é consistente se há em mim a condição representativa evocativa do evento através do processo dialético (pensar).
A simultaneidade ocorre quando ligo a TV em um canal, surgem dois canais ao mesmo tempo, nisto perdemos a condição consciente que denominamos de individual, para que exista objeto e sujeito simultaneamente temos que erradicar a condição de ser consciente de forma individual deles, quer dizer, se não se erradica um sentido de eu é impossível ser consciente da simultaneidade dos eventos. A este processo de cognição lhe chamamos de concentração, este processo que se conhece; É o Real? Não, este não é ainda o Real.
O Real é outro processo similar, mas acessamos muito mais canais ao mesmo tempo, o que existe são todas as potenciais formas de cognição que há por trás desta tela de TV, quer dizer todos os canais do universo, deste planeta e de outros mais e sim é possível percebê-los de forma escondida e de maneira simultânea, isto pode ser percebido, o que não pode ser percebido é por meio da testemunha que testemunha a dois canais separados, mas sim por uma
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testemunha especial chamada Atman chamado Brahman que pode experimentar a continuidade de toda seqüência de forma simultânea em lugar e tempo, esta forma excepcional de experiência lhe chamamos meditação.
Estes eventos se manifestam de forma interna e externa. Qual é a ação Real? Todas elas são reais e todas elas são ilusórias, depende de quem a conhece, se quem a conhece é a consciência individual dizemos que são ilusórias e se quem a conhece é a percepção total da meditação dizemos que são reais.
O que é que existe? O que existe é que elas são, mas não são diferentes, não que uma seja melhor que outra, mas são, sempre são e sempre tem sido e mais, sempre são, sempre tem sido e sempre serão, e não há mais que isto, tudo que há, sempre foi. Mas quando experimentamos o universo em vez de fazer sob a óptica de uma condição, uma cognição que permita ver a simultaneidade escondida de todos os eventos, o que fazemos é pensar e o que vemos no mundo é uma parte na qual a convertemos em um todo para podermos nomeá-la, então o que fazemos é pensar, é pensar, é pensar… E nesta condição de que um eu exista o que fazemos é reconhecer um tipo de informação que vá sob nossa perspectiva pessoal e consciente em um estado vigilico, em uma direção evolutiva no tempo, este é o estado normal de percepção do ser humano.
O que vemos são pontos de percepção e de circunstâncias que estão ocorrendo sem ordem alguma, sem razão temporal alguma, por esta razão o ser humano passa dormindo pesando ou desperto pensando e o mais que o individuo pode fazer é assimilar como real aquela condição que ao ser detectada mentalmente coincide com a condição evocatória que ele já possui (passado, memória), e a isto chamamos pensar e é o mecanismo que gera a dialética e a esta condição, a este universo chamamos universo individual, individualidade, universo dual, o que ocorre é que a outro modo de percepção, é que sempre há sido e será e está acontecendo e o único que temos que fazer é não colapsar a percepção, isto é, não converter o todo em partes, e assimilar a esta parte um fluxo evocatório dialético na qual se pode detectá-lo, um nome a uma forma ou uma forma a um nome isto é tudo que há para fazer.
E as outras partes do universo onde estão? Elas seguem existindo, mas se experimentam de forma diferenciada e acreditamos que assumir definição de uma, por uma e outra nos faz crer que definimos o mundo como real. Não é assim, a conciência individual só é capaz de conhecer parcialidades.
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Conciência = A conciência se define como um continuo (sem partes) evidente e autoevidente (que sabe e sabe que sabe), não-dual (sem sentido de dualidade entre preceptor e percebido ou entre sujeito e objeto), autoluminosa (conhece a si mesma, graças a sua própria natureza) e indagável (não é objeto de percepção de nada mais que de si mesma).
Consciência = Parte ativa da Conciência que capacita ao praticante a capacidade individual de conhecer. Esta atividade individual lhe permite saber que ele mesmo e os objetos existem. A luz do <> pessoal promove a conciência individual.